O Perigo do Delish!

 Eu enquanto praticante e professor de hoodoo e tendo alguns anos de
experiência e prática nunca deixei e nunca deixarei de estudar o Hoodoo.

Dentro do nosso “universo brasileiro” fica um pouco complicado entender
todo o folclore afro-americano envolto aqui.
Não somos estadunidenses e muitos sequer sabem a língua inglesa.
Quando estudamos o hoodoo, precisamos sempre ter em mente que
estamos olhando para o passado. Para um povo que viveu e ainda vive nos
Estados Unidos. Com suas crenças e toda sua ancestralidade.
Ignorar isso só fara de você um mau praticante. Acredite!
Dito isso, venho apresentar algumas outras culturas que por algum “acaso”
acabou invadindo a cultura do hoodoo.

A influência europeia, espírita e cabalista no hoodoo:

Dentro do contexto entre século 19 e século 20 nos EUA, haviam ali duas
culturas um tanto marginalizadas. A negra, e a judaica.
Judeus são vendedores incríveis e por onde passam fazem ali o seu
comércio.
Há muito o que falar sobre a suposta “invasão” da cultura judaica no
hoodoo.
Judeus enviavam seus produtos de limpeza aos negros pelo correio.
Junto a um catálogo de produtos, havia ali suprimentos mágicos e por
vezes folhetins que traziam feitiços, remédios caseiros e dicas do dia a dia.
Vendo que a comunidade compravam seus suprimentos, foi acrescentado
então os menorás, sabão epson, sal kosher e outros suprimentos judaicos.
Os negros então, acabaram por adaptar esses produtos ao seu dia a dia.
Foi aí que os menorás, sal epson, sal kosher e velas de ofertório judaicas
acabaram entrando em uso no Hoodoo.
Olíbano e hissopo também vieram das escrituras sagradas judaicas.
Visto que o uso de olíbano era tão popular em igrejas “dos brancos”
quanto na “igreja dos negros”.

A influência dos grimórios europeus entram no hoodoo em quatro
categorias;

1) Emprego de curiosidades botânicas, minerais e zoológicas de acordo
com a tradição do “livro maravilhoso” da Europa anglo-germânica
2) Recital de Salmos e versículos bíblicos selecionados para fins mágicos
de acordo com as tradições mágicas judaicas (e posteriormente cristãs) e
recital ou escrita de “palavras de poder” selecionadas de acordo com as
tradições mágicas pagãs europeias e judaicas, como a praça SATOR
(romana antiga) e SHADDAI (judaica), que são encontradas em tais livros
ou podem ter sido adquiridas através do contato direto com judeus
contemporâneos.
3) O emprego das fases da lua e dos simbolismos dos signo zodiacal e
também o uso da influência planetária para lançar feitiços.
4)Emprego de talismãs, amuletos da sorte, moedas da sorte e selos e
sigilos feitos de acordo com a fusão cabalista judaico-cristã que produziu
grimórios europeus como a chave menor de “Salomão” e “O Sexto e o
Sétimo Livros de Moisés” – mas sem os próprios ritos, apenas o uso dos
selos.

As ervas no Hoodoo

O uso de ervas no hoodoo geralmente trazem influências pagã, europeia e um pouco africana.
Em alguns casos, para surpresa daqueles que não estão familiarizados com
a prática, algumas ervas também vieram do judaísmo, muitas vezes adaptado pelos cristãos das tradições
judaicas.
Por exemplo, consideremos o uso do hissopo em banhos de limpeza.
Veja o Salmo 51 e perceba que qualquer judeu ou cristão usará hissopo
para purificação.
Isso inclui judeus e cristãos brancos e negros.
Mas o hissopo europeu tem sido usado como um substituto satisfatório por,
pelo menos, um milênio.
Olíbano é outro exemplo: este incenso de resina foi vendido por
farmacêuticos, perfumistas, e empresas de suprimentos para igrejas desde
a invenção do comércio moderno .

A criação de círculos, rituais, vestes e ferramentas e outros materiais
estritamente cerimoniais nos grimórios. E é importante notar que nem
todos os grimórios de origem europeia contêm instruções cerimonialistas
sobre círculos, espadas consagradas e afins em primeiro lugar foi rejeitado
pelo hoodoo.

O que são usados são as palavras (Salmos e cabalistas judeus e palavras de
poder europeias pagãs) e as imagens (selos e sigilos). 

Em termos práticos,
os selos são transformados em talismãs de papel e colocados em sacos
Mojo, feitiços de vela ou Honeys.
O que eu quero que vocês entendam aqui, é que haviam indústrias que
vendiam tanto os cúrios, óleos, quanto pomadas para cabelo, cremes
corporais etc…
Naquela época, na era industrial, havia então fábricas de cosméticos,
perfumes e químicos que vendiam seus produtos com um certo efeito
mágico aos seus clientes.
Entre a primeira e a segunda guerra mundial, a King Novelty Co. Vendia
desde pomadas capilares a Black Cat Oil, Raiz de John Conqueror e assim
por diante! E ressalto aqui que essa era UMA dentre dezenas de empresas
que faziam essa venda.

A influência asiática, hindu, budista e taoista no hoodoo:

Embora um pouco mais oculta dentro das praticas do que as misturas
europeias no hoodoo, as tradições afro-americanas do hoodoo se
expandiram para acrescer um pouco das imagens religiosas e culturais da
asia. Incluindo no nome de produtos e até fórmulas derivadas de fontes
budistas, taoistas e hindus.
Isso começou no final do século 19 e seu “bum” nos EUA foi em meados
de 1920.
Se notava naquela época, em especial o nome de incensos. Sendo depois
acrescentados a lavagem chinesa, buda da sorte, buda sorridente e algumas
velas decorativas. Eram comercializados com o nome de “Lama Temple”.
Um nome que se refere a lamas ou sacerdotes do budismo tibetano.
Mais a frente, em 1960, o aumento do interesse e a popularização da
cultura asiática, fez com que os conjures acabassem adaptando um pouco
do seu trabalho a divindades hindus. Principalmente com Ganesha e Kali.

Considerações finais:

Mesmo tendo essa mistura e sendo popular a miscigenação entre judeus,
europeus e asiáticos dentro do folclore hoodoo, nossa magia não é
bagunça.
O que apresentei para vocês aqui é um pouco da história que compõe
nossa prática mágica. E deste momento para o passado, nada nunca foi
mudado. E sim transmitido.
Hoodoo é a magia popular afro-americana, principalmente a magia popular
dos cristãos protestantes afro-americanos, com alguma inclusão de
católicos afro-americanos, espíritas afro-americanos, muçulmanos afroamericanos, etc.
E está bem documentado como tal. Qualquer um que perca esse ponto está
perdendo seu tempo.
Hoodoo tem seu próprio repertório cultural de ferramentas, feitiços,
fórmulas, métodos, técnicas e crenças. Dentro desse repertório cultural, as
pessoas fazem suas próprias escolhas de como se comportar e como criar
um trabalho de intenção mágica – mas elas permanecem dentro do
repertório cultural enquanto o fazem.
Vamos a um exemplo simples, claro e matador.
Imagine-se fazendo um prato típico. Vou colocar como exemplo a feijoada.
Dentro dela, além do feijão-preto e as carnes e temperos típicos, você
jamais colocaria um peixe, certo?
Eu sei, você deve até ter torcido o nariz agora.
E é exatamente como me sinto ao ver um aluno meu ou qualquer outro
praticante de hoodoo misturando elementos não tradicionais.
Se perde a característica do que é o hoodoo. Sendo qualquer outra coisa.
Mas nunca será hoodoo.
A modernidade traz consigo entusiastas. Porém nesta prática eles não
devem ter vez.
Não deixem que mudem algo que a pelo menos 300 anos luta para se
manter funcionando.
Por isso não há como criar um novo hoodoo. Pois essa prática tem em suas
raízes muita das coisas que hoje, juntas, fazem todo o sentido serem
utilizadas.
Você até pode deixar as orelhas de porco fora da feijoada. Mas com toda
certeza nunca fará uma tradicional feijoada com feijões-brancos.

Deixe um comentário

Carrinho de compras
Rolar para cima